2025 marca uma nova era para a qualidade, rastreabilidade e regeneração do café
- Anna Openheimer
- há 3 dias
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Em 2025, o Brasil inicia uma safra de café que não apenas reflete números expressivos, mas também simboliza uma transformação profunda na forma como produzimos, avaliamos e consumimos café. Este ano destaca-se como um marco para a sustentabilidade, com a introdução de práticas regenerativas, avanços na rastreabilidade e a adoção de novos protocolos de degustação que valorizam a história por trás de cada xícara: uma nova era para o café especial e sustentável.
A estimativa de produção divulgada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que o Brasil colha 65 milhões de sacas de 60 kg na safra 2025/26 — um aumento modesto de 0,5% em relação à temporada anterior. A leve expansão reflete um cenário de contrastes: se o Conilon (robusta) deve atingir um recorde de 24,1 milhões de sacas graças à estabilidade climática e ao uso intensivo de irrigação em regiões como Espírito Santo e Bahia, o café Arábica enfrentará retração para 40,9 milhões de sacas devido a adversidades climáticas, como secas prolongadas e altas temperaturas em Minas Gerais.
Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu levantamento de abril de 2025, estima uma produção um pouco mais conservadora: 55,7 milhões de sacas no total, sendo 37 milhões de sacas de arábica — o que também representa uma queda em relação ao ano anterior de 6,6%. Essas variações entre fontes não são apenas divergências técnicas: são projeções que afetam diretamente o comportamento do mercado, influenciam decisões de compra, contratos futuros e expectativas de preços. No universo do café, expectativas se convertem rapidamente em movimentos econômicos, e a compreensão dessas estimativas torna-se estratégica para quem atua em toda a cadeia.
É nesse ponto que a sustentabilidade se torna protagonista, agora, a agricultura regenerativa deixou de ser uma tendência teórica para se consolidar como uma prática comprovadamente eficaz. Diferente da abordagem tradicional, a agricultura regenerativa busca restaurar os ecossistemas, melhorar a saúde do solo, aumentar a biodiversidade e capturar carbono atmosférico. Dados recentes revelam que a adoção dessas práticas pode aumentar a renda de pequenos produtores em até 62% e reduzir em até 46% as emissões de gases de efeito estufa. Um exemplo marcante é o da empresa italiana Illycaffè, que lançou neste ano o primeiro café brasileiro certificado 100% como regenerativo pela entidade internacional regenagri®. Essa é a confirmação de que há mercado — e valor — para quem produz com responsabilidade ambiental e social.
Essa virada sustentável ganha ainda mais força com os projetos de descarbonização já em curso no Brasil. Cooperativas como a Cocatrel vêm estruturando iniciativas para transformar cafezais em sumidouros de carbono, por meio de práticas que promovem cobertura vegetal, preservação de matas nativas, manejo racional da água e rotação de culturas. A meta é clara: sequestrar carbono suficiente para gerar créditos negociáveis no mercado global, criando um ciclo virtuoso que beneficia o planeta e amplia a remuneração de quem planta com consciência. Estudos realizados no Cerrado Mineiro também comprovam que propriedades cafeeiras com maior presença de vegetação nativa desempenham melhor papel climático e preservam a fertilidade dos solos no longo prazo — mostrando que a sustentabilidade pode ser, sim, aliada da produtividade.
Mas não é apenas no campo que o café está mudando. Em 2025, a maneira como se avalia a bebida também foi revolucionada. O Coffee Value Assessment (CVA), novo protocolo de degustação criado pela Specialty Coffee Association (SCA) e adotado oficialmente no Brasil com o apoio da BSCA, passou a substituir as planilhas tradicionais da indústria. Com ele, a avaliação de cafés especiais deixa de ser apenas técnica e sensorial para incorporar também a história, a rastreabilidade, os atributos afetivos e extrínsecos de cada lote. Trata-se de uma mudança profunda que aproxima o consumidor do produtor, valoriza os contextos socioambientais da origem e permite uma percepção mais justa e complexa da qualidade.
Essa nova forma de avaliar o café está diretamente conectada à consciência contemporânea de consumo. Hoje, qualidade não é apenas sabor. Qualidade é também saber de onde vem, como foi produzido, por quem e com que propósito. O protocolo CVA, ao integrar essas camadas de informação, torna-se a peça final de um quebra-cabeça que vinha sendo montado há anos: sustentabilidade de verdade é aquela que se vê no campo, se sente na xícara e se entende no laudo.
Celebrar o Dia Nacional do Café, neste ano, é celebrar um ponto de inflexão. É reconhecer que o Brasil segue sendo o maior produtor do mundo, mas agora também um dos mais comprometidos com um novo padrão global — um padrão baseado não só em volumes, mas em valores. Um padrão onde qualidade, regeneração, rastreabilidade e justiça formam a base de um café verdadeiramente especial.
Porque o futuro do café não é apenas mais limpo, mais exótico, melhor em características e atributos ou mais ético — é mais um todo de referências que o consumidor precisa e quer participar. E ele já começou a ser colhido.
Referências:
• USDA Foreign Agricultural Service. “Brazil: Coffee Annual.” May 19, 2025.
• Conexão Safra. “Café regenerativo pode aumentar a renda dos agricultores em 62%.”
• Conexão Rural Brasil. “A illycaffè apresenta na SIGEP 2025 o primeiro café brasileiro produzido 100% com agricultura regenerativa certificada pela regenagri.”
• Specialty Coffee Association. “BSCA and SCA partner to make CVA official standard for Brazilian specialty coffee.” Coffee Value Assessment — Specialty Coffee Association
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