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Foto do escritorAnna Openheimer

O meio é outro, o afeto é o mesmo

Atualizado: 9 de abr. de 2020


O café tem sua origem nas regiões altas da Etiópia por volta do século VII. As lendas, entraves políticos e comercialização até que ele chegasse ao Ocidente são muitas. Os conhecimentos sobre os efeitos da bebida disseminaram-se por volta do século XVI, assim, foi somente em 1615 que o café chegou em Veneza, berço das técnicas de torra e moagem do grão. Naquela época, era considerado um artigo de luxo e uma especiaria das mais refinadas.


No Brasil, o café chegou por volta de 1727 e as plantações ganharam mais força somente no século XIX, com a escassez do ouro e concorrência do açúcar. Este país, que há anos mantém estoques de tudo que é coisa nas mãos de poucos e uma incrível concentração de riquezas, começou lá: nos grandes latifundiários e nas monoculturas extrativistas.


Ao passar do tempo, o café se tornou alimento fundamental por ser associado à energia para trabalho e inspiração para o intelecto. Uma bebida não alcoólica com esse potencial tem o poder de mudar o mundo e sabemos que bastam alguns dados para entender a importância global dessa planta e o quanto somos dependentes do café nosso de cada dia.


O café especial é ainda mais jovem que a popularização mundial da bebida. A chamada segunda onda de cafés surgiu somente em meados do século XX, na qual as origens dos cafés começaram a ser reconhecidas e diferenciadas, foi então, que o termo café especial entrou para o vocabulário cafeeiro. A terceira onda surgiu somente em 2000 e é aqui que estamos inseridos. Desde então, houve uma reação à massificação e padronização dos cafés, torrados quase sempre em excesso, e o terroir dos cafés chamava atenção para as notas aromáticas de cada perfil sensorial único. Assim, entrou em vigor os chamados coffee hunters, os caçadores de belos cafés pelo mundo, fazendo um trabalho em pequenas fazendas e sítios afim de transmitir conhecimento e técnicas aos pequenos produtores.


Hoje, o mundo se transforma mais uma vez. Nós, os pequenos produtores somos muitos mais e revolucionamos o mercado de cafés de qualidade dos últimos anos no Brasil. Enfrentamos aqueles que tinham a terra só para si. O pequeno produtor, que antes lamentava os preços lá embaixo das sacas tipo commoditie, via neste novo mercado em potencial a vontade de continuar, pois, somente assim, ele conseguiria alavancar sua lavoura: com a busca constante pela bebida excepcional.


A Mantiqueira de Minas - nossa região - é “composta por produtores que na sua maioria, são proprietários de pequenas fazendas localizadas nas encostas das montanhas, onde a história da região é contada nas paredes repletas de quadros e lembranças históricas.” Tem-se como lema a procura por cafés raros e surpreendentes.


Neste contexto turbulento do mundo em pandemia, os pequenos negócios estão ameaçados. A crise generalizada põe em risco muitas cafeterias, então, pense bem no nosso negócio. O café especial está em alerta emergencial, e assim tantas mãos que vão entrar na colheita agora também estão. Não nos deixe morrer, valorize ainda mais aqueles que dedicam seu tempo e esforços para levar até você uma experiência única no paladar.


Nem todas as pequenas cafeterias são de produtores rurais, mas com certeza compram destes. O Cafetelier mudou, somos/estamos agora 24h por dia em nossa loja online, fornecendo esse elixir de brasilidade com muita determinação. O que não mudou foi nosso afeto presencial, nossa missão café continua e queremos exaltar as pequenas produções de qualidade, para que continuem, na contra mão dos fatos, fazendo um belo trabalho e ganhando a vida com poucas sacas deste ouro negro.


Este texto não é simplesmente sobre nós, é sobre toda uma cadeia que depende de você para continuar. Nosso café é incrível, mas especial mesmo é quem entende, colabora e consome de pequenos negócios. O mundo mudou, e o meio é outro: o virtual, sem tanto contato, mas o afeto é e deve continuar sendo aquilo que nos aproxima. Doravante, todos somos/estamos em movimento.


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